A Verdadeira Face de Cristo
11/05/2014 16:47
Conta-se que existia, em um lugar ermo, esquecido pelo mundo, um mosteiro onde os monges passavam o dia em oração lembrando-se do divino, suplicando-lhe para que olhasse mais para o mundo, esse próprio que havia se esquecido deles. Naquela pequena comunidade, regras eram regiamente obedecidas, apesar de todos dormirem em celas iguais e comungarem da mesma comida.
O mais importante deles era o abade, responsável pela ordem física e religiosa da comunidade; depois vinha o confessor, que cuidava dos tormentos da alma; por fim havia um homem do qual a natureza houvera se esquecido, pois pouca inteligência possuía, ou melhor, era deficiente quanto a essa capacidade mental, mas fora lembrado por Deus, pois tinha uma bondade e uma alegria de viver, enormes, um dom que aos demais, não passava de ingênuo, um daqueles pobres de espírito de quem, como disse Cristo, no seu sermão da montanha, seria o reino dos céus.
Vivia esse homem a fazer serviços que os outros se recusavam a fazer, vestia-se de monge, mas não era, pois lhe faltava inteligência.
O mosteiro havia dedicado seus votos ao “Sagrado Coração de Jesus” e, ao longo do ano, a única data em que os comuns, gente como nós, podíamos adentrar em tal recinto era o dia de “Corpus Christie”, quando se faziam missas e orações ao padroeiro.
Enquanto o dia-a-dia do local transcorria, o nosso homem se divertia, ora com cebolas, ora com tomates, algumas vezes com laranjas, fazendo malabarismos.
No dia da festa, lá estavam todos reunidos, monges e população, a rezar a missa. À noite, nos fundos da capela deserta, o irmão leigo fazia malabarismos com ovos, oferecendo a Jesus o que melhor possuía somente ele e mais ninguém.
O abade ao perceber que havia alguém nos fundos da capela, levanta-se e vai ver. Quando se dá com aquela cena, ergue os braços e começa a terrível fórmula de excomunhão: “excomungatur est...”
Das faces do Senhor Crucificado brota uma lágrima.